quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Jornada Mundial da juventude descrita por um “Agnóstico”

Mário Vargas Llosa escreveu recentemente um artigo surpreendente sobre a Jornada Mundial da Juventude 2011, que aconteceu em Madri. Segue uma síntese do texto, que foi publicado no jornal O Estado de São Paulo:

“A festa e a cruzada” – Mario Vargas Llosa

(Há uma forma de se) encarar o evento como um desmentido das previsões de retração do catolicismo, uma prova de que a Igreja mantém sua vitalidade e a barca de São Pedro enfrenta sem perigo as tempestades que tentam afundá-la.
Uma dessas tormentas tem como cenário a Espanha, onde Roma e o governo Zapatero vêm tendo uma relação tensa nos últimos anos. Por isso, não é casual o fato de Bento XVI ter ido diversas vezes ao país - duas delas já no seu pontificado. A "Espanha católica" não é a mesma. As estatísticas são claras: em julho de 2010, 80% dos espanhóis se declararam católicos; um ano depois o índice caiu para 70%. Entre os jovens, 51% afirmam ser católicos, mas somente 12% se dizem praticantes. Suas críticas concentram-se sobretudo na oposição da Igreja aos anticoncepcionais, à pílula do dia seguinte, à ordenação de mulheres, ao aborto e ao homossexualismo.
         Tenho a impressão que esses dados refletem uma realidade que extrapola a Espanha e é indicativa do que se passa com o catolicismo no resto do mundo. (...) Esse declínio do número de fiéis católicos, em vez de ser um sintoma da inevitável ruína e extinção da Igreja, é um catalisador da vitalidade e energia que dezenas de milhões de pessoas têm demonstrado, sobretudo nos pontificados mais recentes.
(...) Na sua dimensão social e política, (...) embora tenha perdido fiéis e encolhido, o catolicismo hoje está mais unido, ativo e beligerante do que nos anos em que pareceu prestes a desmoronar.
         Isso é bom ou ruim para a cultura da liberdade? Embora o Estado seja laico e mantenha sua independência de todas as igrejas, às quais deve respeitar e permitir que atuem livremente, é bom. Isso porque uma sociedade democrática não pode combater eficazmente seus inimigos se suas instituições não estiverem respaldadas por valores éticos. Durante muito tempo acreditou-se que (...) a religião iria desaparecer (...) e a ciência e a cultura a substituiriam. Hoje sabemos que  isso foi outra superstição que a
realidade aniquilou.
A cultura não conseguiu substituir a religião nem o conseguirá, salvo para pequenas minorias. A maioria dos seres humanos só encontra aquelas respostas através de uma transcendência que a filosofia, a literatura, a ciência não conseguem justificar. E, por mais que intelectuais tentem nos convencer de que o ateísmo é a única conseqüência lógica e racional do conhecimento, a noção da morte ainda será algo intolerável para o ser humano, que continuará encontrando na fé a esperança de uma vida após a morte, à que nunca pode  renunciar. (...)

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