quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Coleta de Alimentos

  O Dia Nacional da Coleta de Alimentos, acontece no Brasil desde de 2006 e é promovido pela Companhia das Obras: fundada por aqui em 1999, tendo nascido na Itália, em 1986, a partir da experiência do Movimento Católico Comunhão e Libertação.
Realizada no dia 5 de novembro deste ano, a coleta reuniu voluntários de 37 cidades de todo o Brasil, que trabalharam desde a “abordagem” de clientes em supermercados de todo País para propor o gesto, até a organização das doações e carregamento destas.
  É marcante a felicidade dos voluntários, mesmo com o cansaço, ao longo de onze horas de campanha que, este ano, arrecadou um total de 115 toneladas de alimentos.
  Sílvia Brandão, professora da Faculdade Santa Marcelina, conversou com a equipe de Bússola sobre a experiência voluntária que fez na campanha.
  Há quanto tempo participa da Coleta?
  Desde a primeira edição da Coleta.
                                            
  O que significa para você participar deste gesto?
  A Coleta é uma oportunidade de experimentar a gratuidade e abertura para encontrar outras pessoas. Eu sou tímida e tenho dificuldade para abordar as pessoas, então, no início prefiro organizar os alimentos doados.  Mas todos os anos acontece a mesma coisa: acabo me comovendo com a vida que acontece ali, tantas pessoas se movem, contribuem, agradecem e quando menos espero, me encontro na abordagem também.  O final do dia da coleta é sempre uma abundância de vida, de alegria que faz valer a pena todo empenho e cansaço.


  O que foi mais gratificante para você neste sábado?
  Neste ano fiz a coleta com os amigos do CLU (Comunhão e Libertação Universitário) e com alguns alunos meus. Marcou-me muito a vivacidade e alegria com que esses amigos jovens abordavam as pessoas, a decisão de conversar com quem muitas vezes estava apressado para propor um valor, uma experiência.  Essa convicção me comoveu porque expressa a certeza de aquilo que faziam é um bem para si e para os outros. Fiquei também muito contente por um encontro com uma senhora quando passávamos os 23 pacotes de arroz no caixa, comprados com as contribuições dos universitários. Ela ficou impressionada com a atitude, comprou mais um pacote e nos doou. Depois perguntou se ela podia conhecer ao Banco de Alimentos e alguma das instituições que são por ele beneficiadas, pois e sentia que sua vida estava muito vazia, sem sentido. Contei a ela que faço caritativa em uma creche e ela disse que quer ir comigo, trocamos telefones. Fiquei impressionada com as possibilidades de encontro que a Coleta gera, um caminho para que tantas pessoas possam conhecer uma vida mais humana.

  Por que o gesto da coleta atrai tantos voluntários e pessoas dispostas a colaborar doando alimentos?
  Surpreendeu-me e muito me alegrou fazer o gesto da coleta com nove alunos meus. É muito bonito reconhecer que o desejo de bem que eu tenho é o mesmo de cada um de meus alunos ou de cada pessoa que entra no supermercado. Quando abrirmos espaço para essa exigência de bem e nos deixamos guiar por ela, topamos um gesto de doação de nós  mesmos experimentamos uma correspondência, uma realização grande. Por isso que  tantos vem nos agradecer pela iniciativa e meus alunos vieram me dizer "nossa, obrigada não imaginava que seria tão bom!”.


  Para mais informações sobre a Coleta e a Companhia das Obras, visite: www.cdo.org.br/coletadealimentos/

Occupy Wall Street

  "Somos os 99%" é um refrão que se repete em praças no mundo afora, chegando até mesmo aqui, onde manifestantes acrescentaram os slogans "libere a maconha", "libere o aborto" e "fora Ricardo Teixeira", segundo reportagem do Estado de São Paulo. Os 1% restantes seriam os senhores de Wall Street.
  Por que agora? Por que os países "desenvolvidos" atravessam uma enorme crise econômica. Nos EUA 46,2 milhōes são pobres e 50 milhões não têm direito nem a um sistema de saúde como o nosso SUS. Na Europa o euro está agonizando.
  Defendendo os movimentos de ocupação, o polêmico cineasta Micheal Moore declarou a BBC: "quando eu era criança os ricos faziam fábricas que nos proporcionavam trabalho e casas e nossos filhos podiam chegar à universidade. Mas 'suficiente' é a palavra mais repugnante no capitalismo".
  É um fato que este sistema econômico não dá conta do egoísmo humano, como acusou o então papa João Paulo II. E parece ser também inevitável que as próximas gerações dos países do hemisfério norte irão ter um padrão de vida bem inferior àquele de seus pais. Mas neste momento é útil ter um olhar histórico. O que sempre foi o mais necessário em tempos como este? O que é mais importante agora? Um texto clandestino da época soviética dizia que o erro das revoluções é serem rápidas e concretas em destruir e abstratas e incapazes em construir.
  Esperança! A coisa mais importante em momentos de crise é o desejo de construir, de aceitar o sacrifício inerente a qualquer construção. Isso só existe na presença de esperança. Na certeza de que a vida é grande e vale a pena.
  Esta afirmação pode soar piedosa demais para nossos ouvidos em um momento histórico positivo como o brasileiro. Mas conversando com qualquer um que atravessou os nossos anos 80 - quando algo semelhante nos aconteceu - ou que caminha hoje pela periferia das grandes cidades europeias e americanas vê-se que isso não é conversa fiada.
  O gesto mais re-evolucionário, isto é, que regenera a capacidade de evolução, sempre foi o de restituir a esperança a quem a perdeu.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A criança não é um mero detalhe


Há algumas semanas um amigo postou na sua página do Facebook uma citação de um político norte americano: O direito de ‘escolha’ de um ser humano não pode se sobrepor ao direito à ‘vida’ de outro. Por quanto tempo mais conseguiremos manter nosso compromisso com a liberdade se continuarmos a negar o próprio fundamento da liberdade - a vida - aos seres humanos mais vulneráveis?” (Paul Ryan). Essa citação provocou um grande movimento em sua página. É claro que tal publicação não poderia ser ignorada e logo os “defensores dos oprimidos” surgem para defender o aborto. Os argumentos de defesa são vários, mas quase sempre repetitivos: má formação fetal, dificuldades financeiras, estupro etc – isto é, o motivo é sempre que a gravidez torna-se algo indesejado aos pais.
Não sei qual a situação nas outras cidades do Brasil, mas aqui, em minha pequena capital, deu-se início a uma verdadeira onda de manifestações abortistas. Quase todas têm se dado na forma de vandalismo, principalmente em pichações de edifícios. Frases do tipo: “Legalização do aborto já. Que o estado garanta e que a sociedade respeite”, têm sido pintadas por toda a cidade. Parece até ser a voz da sociedade a falar, mas não é. Em recente pesquisa, daquelas encomendadas pelos partidos políticos para melhor se planejarem, mais de 70% dos entrevistados se posicionaram contrários ao aborto.
Mas se não é a maioria quem apoia o aborto, por que parece que eles o são enquanto que quem é contrário é considerado atrasado, dogmático ou reacionário? Como se posicionar?
Pe. Julián Carrón disse-nos que “às vezes a nossa contribuição mais simples e decisiva é colocar a pergunta que o outro não tem a coragem de colocar (...) colocar a pergunta certa, verdadeira, é a primeira contribuição que damos ao outro: não é resolver-lhe o problema, mas começar a colocar a pergunta”.
Devemos considerar sim todas as argumentações sobre o sofrimento dos pais. Afinal, precisamos levar em consideração todos os fatores da realidade. Mas, por isso mesmo, precisamos perguntar: “a partir de qual ponto poderemos avaliar que o dano causado à vida de alguém é ‘suficientemente razoável’ para justificar o assassinato de outra”? Essa é a pergunta que não quer ser colocada. Não é por uma posição dogmática ou reacionária, mas por levar em consideração todos os fatores da realidade. Elevemos o nível do debate e não deixemos que fique no nível dos discursos ideológicos. A criança gestada não é um mero detalhe, ela é um ser humano – podemos partir daí.

Uma Líbia democrática?

  A história moderna da Líbia vai ser marcada pela revolução que derrubou o governo ditatorial de Muamar Kadafi. Entretanto, enquanto a ONU louva o novo regime rebelde, a “democracia” parece se transformar cada vez mais em uma ideia fortemente ideológica e marcada pela cartilha politicamente correta fiel ao espírito da modernidade secularizada. Outrossim, em meio a essa epopeia da liberdade, encontra-se o homem líbio e os seus anseios, muitas vezes ofuscado em um combate de poder.


  Falar de liberdade, justiça e democracia, partindo da visão dos EUA atuais e da ONU é enxergar o mundo dentro de uma perspectiva muito restrita e ideológica. Desse modo, enquanto em nome da autodeterminação dos povos o Sudão foi praticamente esquecido pela comunidade internacional, a Líbia tornou-se alvo do interesse da democracia ocidental em relativamente pouco tempo.


  A democracia, como pensada hoje, obviamente se encontra em um patamar de moralidade muito acima dos desastrosos regimes totalitários árabes. Entretanto, é necessário ter a real percepção do que se entende por “regime democrático”. Também deve ser levado em consideração o forte teor ideológico que sustenta o edifício ocidental que, ao que tudo indica, será construído no coração de tais nações árabes. Ou seja, a importação de anti-valores modernos, como o individualismo, o consumismo, a laicização ateia etc. Também o risco de acontecer como na Turquia, transformar em política governamental a desconstrução dos fundamentos culturais que alicerçam a própria existência do povo líbio.


  A mentalidade positivista moderna, com a supremacia da técnica e a transformação do progresso no supremo juízo e no fundamento da moral, converteu a democracia no regime onde a verdade se esvaia em nome de uma justiça pensada como abertura ao erro. Entretanto, o verdadeiramente justo é o alicerce que deveria erguer toda a estrutura democrática. Não obstante, em nome desta democracia o secularismo ocidental vai minando as tradições e os costumes legítimos onde quer que se instale.


  A democracia não democrática, ou seja, que não respeita os valores intrínsecos do homem e que, em oposição, favorece a derrocada de princípios que são essenciais para a realização deste, fere os mais profundos anseios da pessoa humana, é um sistema que persegue, acima de tudo, a aquisição do poder.


  O povo líbio pode, através da construção de um novo regime, deixar apenas na história o tempo de terror de Mumar Kadafi. Porém, hoje corre o perigo de tornar-se reflexo das mazelas que assolam as nações ocidentais embriagadas com o secularismo, o consumismo, o individualismo etc. Assim, apenas valorizando a sua cultura, respeitando a condição fundamental do homem e amando aquilo que é verdadeiramente justo poderá, então, a Líbia despontar como uma nação onde a pessoa é respeitada, onde a democracia é realmente a justa abertura para a realização do homem.

3° Editorial - Reduzindo-nos, reduziremos

 O mundo vive um período de crise. Crises econômicas e crises morais. É patente a falta de valorização à vida humana demonstrada por muitos. Em meio às crises econômicas, justos protestos contra a ganância de uma minoria são utilizados como pretextos para a defesa de uma falsa liberdade. E, mesmo diante desta instabilidade econômica e moral no ocidente, o modelo vigente, esta ideologia individualista ocidental, é exportada para o mundo, como sendo o correto, justo e verdadeiro.
Aqui, nas terras tupiniquins, qualquer agitação popular – a exemplo do “Occupy Wall Street” – já é pretexto suficiente para protestar pela liberação da maconha e pela legalização do aborto, juntamente com protestos contra Ricardo Teixeira. Está é uma demonstração da profundidade com que é tratado um tema que diz respeito à vida - o aborto -, colocado no mesmo nível de assuntos com pouca ou nenhuma importância.
Isto deixa evidente uma prova de que ou valorizar a vida - no senso comum - passou a significar manter a si próprio vivo (no “sentido biológico” da palavra) ou que a vida como um todo passou a ser tratada como um objeto que, se for inconveniente, pode ser jogado fora. Em ambos os casos, transparece que tudo pode ser determinado e tratado da forma como cada um quiser. Essa atitude egoísta é difundida por todos os lados, defendida por uma ideologia que, supostamente, defende a liberdade, o bem-estar e a “saúde pública”. Há alguma melhoria para a “saúde pública” em se permitir o assassinato de um ser humano vulnerável? É uma demonstração de liberdade poder fazê-lo legalmente? É até desnecessário dizer que para qualquer SER HUMANO a resposta para ambas as perguntas é não.
Enquanto isto ocorre nos países ocidentais, a Líbia termina sua luta contra a opressão de Kadafi. Aplaudida pela ONU, o país começa a construir sua democracia. Há o risco de que, junto com a democracia, o ocidente também exporte vícios que reduzem o ser humano a um ser que se sufoca, pois está fechado para enxergar toda a realidade. E, com isto, o novo regime pode se tornar tão opressor – ou mais – que o primeiro, negando e destruindo valores intrínsecos do homem. Entretanto, respeitando valores intrínsecos humanos, a democracia líbia pode se tornar uma “justa abertura para a realização do homem”.
A ausência de profundidade com que é tratada a questão do aborto é um reflexo da falta de valorização que tem sido dada ao ser humano. Se este é visto como um objeto que pode ser manipulado da forma como quem detém algum poder sobre ele – seja a mãe de uma criança durante a gestação ou líderes políticos de um povo – julgar conveniente, então a vida humana não significa absolutamente nada. Aceitar esta falsa ideologia é aceitar a própria redução e, assim, reduzir todo o ser humano ao nada.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Noticiários não mentem. Omitem, conforme for conveniente fazê-lo.

   Sem dúvida, a Jornada Mundial da Juventude foi um acontecimento muito importante para o catolicismo neste ano. Quando se trata da Igreja e do Papa, a postura mais comum na mídia é da crítica e oposição. Muitas vezes são desconsiderados fatos e dados importantes para escrever uma matéria que, supõe-se, vende mais jornais, pois corresponde à “moda”. Esta atitude comum da mídia foi citada por Andrew Brown no jornal inglês “The Guardian”. Segue a síntese da matéria:

Se esta não é notícia


   Se eu fosse católico, ficaria bastante aborrecido com a BBC. O noticiário desta manhã transmitiu um serviço sobre a visita do Papa a Madri, concentrando-se inteiramente nas “milhares” de pessoas que protestaram contra essa visita. Não mencionou sequer uma vez (...) o extraordinário encontro católico global em que o Papa participa e que atraiu na capital espanhola cerca de um milhão e meio de jovens do mundo inteiro. Que aprovemos ou não, contudo trata-se de um acontecimento importante e, sobretudo, é digno de nota porque é inesperado e contrasta com aquilo que divulgam os meios de comunicação. Então, por que motivo não é mencionado?

   Poder-se-ia pensar que se trata de um exemplo de preconceito consciente contra os católicos e talvez o seja. Todavia, duvido. (...) Suspeito que (...) é algo muito mais cultural. Os jovens que participam em peregrinações organizadas para saudar o Papa não são aquele tipo de pessoas que a maior parte dos jornalistas querem tornar-se ou já foram. Eles são a quinta-essência do que está fora de moda.

   Os jornalistas são quase inevitavelmente sensíveis à moda nas ideias, em parte porque a sua sorte e as suas carreiras dependem muito dela. (...)

   E não se trata apenas da BBC. Na internet ouvi na “Deustche Welle” (...): “O Papa Bento XVI chegou à capital espanhola na quinta-feira para participar das celebrações da Jornada Mundial da Juventude (...) o preço da visita, pago pelos contribuintes, suscitou muitas reações num país sufocado pela crise econômica (...) cerca de cinco mil pessoas saíram pelas ruas de Madri para protestar contra a chegada do Papa por ocasião do encontro (...)”.

   Sem dúvida, as contestações são uma notícia, mas a capacidade que o Cristianismo tradicional tem de atrair uma multidão de um milhão e meio de jovens parece-me algo muito mais digno de ser divulgado (...).

   Naturalmente, os números não demonstram a verdade, mas são critérios de avaliação do compromisso e da importância política. O número de pessoas que chegaram a Madri para ver o Papa é trezentas vezes superior àquele de quantos chegaram à capital espanhola para protestar. Então, qual é o grupo mais importante do qual se deve dar a notícia?

UMA NAÇÃO A SER DESCOBERTA

   Há cerca de uma semana em um programa da TV paga, um importante embaixador explicava a uma jornalista que o problema da corrupção no Brasil nasce do fato de não sermos como a Inglaterra ou EUA. Entre nós a democracia é frágil, não existe participação popular. Em tudo esperamos do Estado e a sociedade civil não se mobiliza.
   Parece-nos que a realidade seja mais complexa. Esse juízo descreve o Brasil real? Esse distinto senhor conhece nosso povo e seu empenho cotidiano? Quanto dessa opinião é só senso comum?
   Quem vive a vida em nossos bairros, quem conhece o nosso interior, tem outra experiência. Quantas centenas de milhares de pessoas são atendidas em centros de saúde que surgiram da reivindicação popular? Quantos milhões de crianças são atendidas diariamente em creches comunitárias nascidas das igrejas e associações “amigos de bairro”? O que aconteceria se as centenas de Santas Casas de Misericórdia do Brasil fechassem? Um caos na saúde pública. E se fecharmos as creches comunitárias? A educação das crianças e a inserção das mulheres no mercado de trabalho sofreriam um golpe mortal.
   Talvez o embaixador e o senso comum confundam ou reduzam “participação popular” apenas à possibilidade das pessoas de escolher candidatos nas eleições. E “política” às atividades dos partidos.
   O Brasil possui uma história pouco divulgada de grupos e comunidades que trabalharam e trabalham para o bem comum. Isto é política. Um exemplo foi relatado pelo Lancet, uma das mais importantes revistas médicas científicas do mundo. Em sua série sobre o Brasil do último mês de maio, fala-se como a Pastoral da Criança, ação voluntária católica, foi uma das principais causas da queda da mortalidade infantil no país e está na origem do Programa de Saúde da Família, bandeira de nosso Sistema de Saúde. Isto é participação popular. Ou a Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo que, sem ajuda do governo, já possibilitou que 60 mil pessoas tivessem seu terreno e casa, escolas e transporte, e nos últimos seis anos, acesso ao ensino superior para 50 mil de seus filiados. Isto chama-se mobilização popular.
   Em cada cidadezinha brasileira encontram-se exemplos assim. Existe um povo, o nosso povo, que nos é desconhecido.