segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uma Líbia democrática?

  A história moderna da Líbia vai ser marcada pela revolução que derrubou o governo ditatorial de Muamar Kadafi. Entretanto, enquanto a ONU louva o novo regime rebelde, a “democracia” parece se transformar cada vez mais em uma ideia fortemente ideológica e marcada pela cartilha politicamente correta fiel ao espírito da modernidade secularizada. Outrossim, em meio a essa epopeia da liberdade, encontra-se o homem líbio e os seus anseios, muitas vezes ofuscado em um combate de poder.


  Falar de liberdade, justiça e democracia, partindo da visão dos EUA atuais e da ONU é enxergar o mundo dentro de uma perspectiva muito restrita e ideológica. Desse modo, enquanto em nome da autodeterminação dos povos o Sudão foi praticamente esquecido pela comunidade internacional, a Líbia tornou-se alvo do interesse da democracia ocidental em relativamente pouco tempo.


  A democracia, como pensada hoje, obviamente se encontra em um patamar de moralidade muito acima dos desastrosos regimes totalitários árabes. Entretanto, é necessário ter a real percepção do que se entende por “regime democrático”. Também deve ser levado em consideração o forte teor ideológico que sustenta o edifício ocidental que, ao que tudo indica, será construído no coração de tais nações árabes. Ou seja, a importação de anti-valores modernos, como o individualismo, o consumismo, a laicização ateia etc. Também o risco de acontecer como na Turquia, transformar em política governamental a desconstrução dos fundamentos culturais que alicerçam a própria existência do povo líbio.


  A mentalidade positivista moderna, com a supremacia da técnica e a transformação do progresso no supremo juízo e no fundamento da moral, converteu a democracia no regime onde a verdade se esvaia em nome de uma justiça pensada como abertura ao erro. Entretanto, o verdadeiramente justo é o alicerce que deveria erguer toda a estrutura democrática. Não obstante, em nome desta democracia o secularismo ocidental vai minando as tradições e os costumes legítimos onde quer que se instale.


  A democracia não democrática, ou seja, que não respeita os valores intrínsecos do homem e que, em oposição, favorece a derrocada de princípios que são essenciais para a realização deste, fere os mais profundos anseios da pessoa humana, é um sistema que persegue, acima de tudo, a aquisição do poder.


  O povo líbio pode, através da construção de um novo regime, deixar apenas na história o tempo de terror de Mumar Kadafi. Porém, hoje corre o perigo de tornar-se reflexo das mazelas que assolam as nações ocidentais embriagadas com o secularismo, o consumismo, o individualismo etc. Assim, apenas valorizando a sua cultura, respeitando a condição fundamental do homem e amando aquilo que é verdadeiramente justo poderá, então, a Líbia despontar como uma nação onde a pessoa é respeitada, onde a democracia é realmente a justa abertura para a realização do homem.

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